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Entrevista sobre Program-ME, com Paulo Santos

Paulo Santos Paulo Santos
Minibio

Paulo Santos é formado em Engenharia Elétrica - Habilitação em Eletrônica pela Faculdade de Engenharia São Paulo. Especialista em Sistemas operacionais, protocolos de rede e controle da infraestrutura da rede. Microcontroladores. É um dos criadores do Program-ME e ajudou a desenvolver o material da Academia do Programador.

09/09/2009

Entrevista sobre o Program-ME, com Paulo Santos


1. Poderia comentar como tudo começou até a criação do Program-ME ?

Isso pode ser um pouco longo, mas vamos fazer um resumo.

Essa história começou com o Bene (veja a entrevista dele sobre Robótica) que é meu amigo há anos. Ele me apresentou o Vinicius que queria montar um CNC para trabalhar com madeira e tinha algumas dúvidas.

Como eu gosto desses projetos do tipo "Faça Você Mesmo" e já conhecia o assunto (pois trabalhei com automação industrial) e também estava construindo um CNC caseiro para mim, não custava nada dar uma ajuda.

Conversei algumas vezes (pelo Skype) com o Vinicius sobre como fazer o controle dos motores de passo e sobre alguns programas livres de controle do CNC. Foi fácil perceber que ele também gosta muito de criar seus projetos e se envolver com hardware. Aliás, uma tendência atual. Parece que voltou o mesmo clima de quando eu estudava o curso técnico e os adolescentes gostavam de brincar com eletrônica. Alguns meses depois, o Bene novamente fez a ponte com o Vinicius, que queria criar um novo grupo de cursos, a Academia do Programador.

O primeiro contato foi para ver a possibilidade da apostila de Lógica de Programação ser escrita por mim.

Essa segunda conversa com o Vinicius foi pessoalmente e logo de cara percebi a imprecisão do provérbio "de médico e de louco todos temos um pouco". Alguém tinha ficado com a parte de médico desse cara :-) .

A ideia do Vinicius era de utilizar algum recurso de hardware para auxiliar no ensino de programação e se possível, algo que tivesse alguma interatividade. Como eu já conhecia o Arduino, agendei com o Vinicius uma apresentação dos recursos dele.

Como a programação é em C, porém com uma simplificação muito grande dada pela IDE, ele seria perfeito como ferramenta de ensino de programação. Aliás, foi para isso que o Arduino foi originalmente criado.

2. Como foi a criação e produção do Program-ME ?

Nem precisa falar que o Vinicius gostou do Arduino e combinamos de fazer um protótipo de uma placa adicional que iriamos plugar no Arduino e teria inicialmente:

  • som
  • leds (iluminação)
  • sensor de luz
  • entrada para sensor analógico
  • entrada com um botão
  • saída para controlar um servo-motor

Fiz essa placa (que, como vai plugada no Arduino, leva o nome de Shield) e alguns programas de exemplo e lá fomos nós para mais uma apresentação e muita conversa sobre eletrônica.

Não me lembro muito bem em que momento concluí que seria melhor fazer uma placa completa com os recursos que tinhamos conversado ao invés de simplesmente fazer um shield, mas comentei com o Vinicius, que também gostou da ideia. Desse ponto em diante entrou o serviço mais pesado (o mais correto seria dizer menos divertido), o projeto do circuito impresso do Program-ME e sua fabricação e teste. Algumas iterações no ciclo projeto / apresentação pro Vinicius / reprojeto, e o circuito impresso estava pronto. Lógico que utilizei um CAD para facilitar tudo isso. Procurei um fabricante e fizemos um lote inicial. Por mais incrível que pareça, funcionou na primeira. Teve um erro de projeto (culpa minha), mas que foi fácil de consertar.

3. Para que serve o Program-ME ?

Como disse, ele nasceu para ensinar programação. Nele você pode fazer tudo o que o Arduino faz, porém com a facilidade de já ter alguns dispositivos inclusos na placa e prontos para uso.

Como na versão final aumentamos os recursos em relação ao primeiro protótipo (que era somente um shield), você poderia até fazer um pequeno robô com ele.

Na versão atual ele tem :

  • 9 Leds coloridos
  • Um buzzer
  • 4 transistores de potência para controlar motores ou relês externos
  • Um LDR
  • Um botão (para usar no teste de programas)
  • 2 saídas para servo motores
  • 2 conectores para entradas analógicas

Com isso, você pode prototipar uma grande quantidade de projetos. Ah, vale lembrar, que ele continua sendo compatível com o Arduino, pois deixamos os conectores para utilizar shields e temos jumpers para desligar esse hardware que adicionamos no projeto.

4. Quais são os próximos planos ?

Inicialmente um curso básico de Eletrônica e depois um curso de Robótica. As grades com os conteúdos dos cursos está feita e estamos no processo de discussão (brain storming, ou como falava um mineiro que conheci: toró de parpites). Falamos também sobre alguns hands-on sobre esses assuntos. Na verdade temos muitos planos, em cada conversa surgem novas ideias. O Arduino e agora o Program-ME abrem uma infinidade de possibilidades. De qualquer forma outro plano que não sai das nossas mentes é a criação de Kits mais avançados para o Program-ME.

5. Existe mercado para a área de eletrônica e robótica ?

Sim, existe mercado profissional para esses conhecimentos, mas além disso, como são conhecimentos básicos para o dia a dia das pessoas, acredito que além de divertido, esses cursos desmistificam o funcionamento de vários equipamentos que vemos como caixas pretas.

6. Sabemos que você tem paixão por teatro e faz parte de um grupo, como você visualiza a utilização destas tecnologias por artistas ?

Sim, eu faço parte de um grupo de teatro e a minha função específica é a dramaturgia e as novas mídias. A minha ideia inicial era de utilizar o Arduino para ajudar com os recursos cênicos, dada a sua excelência como interface homem-computador e computador-homem. Conversei um pouco com o diretor do grupo e com outro participante que além de designer é técnico em eletrônica sobre como utilizarmos o Arduino. Entre outras coisas, o que mais gostamos foi na detecção da posição do ator para gerar um efeito cênico específico. Ou seja, como meio de viabilizar uma mídia interativa entre o ator e a cena. Porém, o Arduino é muito utilizado na criação artística, inclusive interfaceando com outros programas como o PD e o Processing.

Essa ideia da mídia interativa na criação artística está muito em moda hoje. É comum ver instalações onde uma ação do espectador gera consequências ou efeitos / ações que não estão programadas de forma rígida, ou seja, temos uma certa criação espontânea entre observador e obra.